Curso Constelação Familiar Sistêmica

AS CONSCIÊNCIAS

AS CONSCIÊNCIAS – PESSOAL, GRUPAL E ESPIRITUAL

Nas Constelações Familiares é importante a compreensão do funcionamento das diferentes consciências para poderemos “ajudar” o cliente neste trabalho. Temos a ideia de que as leis funcionam de uma determinada maneira e essa ideia tem uma dimensão específica na nossa Consciência Pessoal, mas é na justiça compensatória da busca de equilíbrio do clã que se encontra a real força que atua oculta sobre a nossa Consciência Pessoal.

Na Consciência Pessoal nos colocamos a serviço do clã. Quando existe uma sensação sem um motivo justificado, essa sensação pertence mais a Consciência do Clã que é a busca da compensação para o equilíbrio. A Consciência do Clã é uma consciência dirigida para o grupo, não é uma consciência individual. Se alguém foi excluído, sofreu um trauma, quem vem depois possivelmente terá que compensar isso frente ao grupo como um todo. Porém, quem veio depois, não tem informação do que aconteceu lá atrás e então toma o destino do clã, compensando isso.

Com frequência, isso se constata nos casais quando eles não conseguem ficar juntos felizes, pois ainda se encontram ligados em suas famílias de origem, com destinos a cumprir.

São destinos, ou ligações enredadas ao sistema de origem e que levam a inúmeras dinâmicas nas suas vidas. Citemos o exemplo de casais nos quais, um dos parceiros teve um parceiro anterior e se separou deste primeiro parceiro, para ficar com o atual parceiro. Uma das dinâmicas frequentemente vivenciadas inconscientemente é a perda do primeiro filho, isso se dá em função da perda sofrida pelo primeiro parceiro. E uma dinâmica estabelecida para o equilíbrio, pois através dessa consequência, todos perdem e o equilíbrio se restaura.

Podemos também considerar o suicídio como uma dinâmica sistêmica, um ato compensatório do sistema familiar que, através deste ato, o clã busca a compensação das vidas no grupo de pertencimento. O sistema atual precisa perder uma vida para o equilíbrio da consciência do grupo familiar. Essa é uma consciência que tem justiça própria independente da justiça pessoal.

A Consciência Pessoal está mais ligada ao pertencimento próprio, uma consciência inconsciente que se movimenta em direção a cumprir com aquilo que é esperado pelo grupo. Na Consciência Pessoal o membro deve estar disponível a cumprir uma série de regras, viver os mitos, as normas, seguir os valores e ritos do grupo. Ao pertencer a um grupo o indivíduo realiza adequações, mantendo os padrões de interação recebidos, pois para pertencer, tem que ser igual em sua inconsciência. A diferenciação já lhe é dificultada porque lhe é imposto a ser “daquele jeito”, “seguir aquela religião”, caso não o faça, a Consciência Pessoal sente culpa.

Uma dinâmica de infelicidade ou de “meia felicidade” observada na Consciência Pessoal é quando um irmão, que veio antes faleceu na gestação, recém-nato ou tenramente. Essa morte deixa um vazio no mapa espacial e no campo energético do sistema, atingindo diretamente a ordem dos irmãos.

Nestes casos, a Consciência Pessoal sente-se culpada pelo privilégio e questiona- se inconscientemente: “porque eu tenho direito à vida e ele não teve”? “Se eu tive essa regalia, devo pagar por ela.”

Nessa dinâmica, uma forma inconsciente de equilibrar, é tomar a sua vida pela metade e a outra metade, a metade que não é tomada, é dedicada ao morto, uma homenagem inconsciente de equilíbrio, homenagem à “não vida” do irmão. Por consequência, o irmão que vive, passa a viver um “pouquinho menos bem’’’, um pouco mais infeliz do que feliz e vivendo infeliz, permanece na inocência da Consciência Pessoal, mas na infelicidade inconsciente do viver. O irmão em vida não se permite viver plenamente. Essa dinâmica pode ser percebida nas suas consequências, observada quando alguém “procura” sua infelicidade.

A Consciência Pessoal também está ligada à ordem, se uma pessoa faz alguma coisa de “errado” a quem veio antes então, a Consciência Pessoal se faz presente na sensação de culpa e na punição consequente. Na Consciência do Clã, esse membro “paga” por estar fora do seu lugar.

A Consciência Pessoal no princípio da ordem também está ligada à identidade, observamos que quem se mostra confuso em sua identidade, muitas vezes está fora do seu lugar na ordem da família. O princípio da ordem pode ser desrespeitado com muita facilidade porque estar fora do lugar acontece com muita frequência quando ocorre nas famílias situações de abortos e ou perdas precoces. Estas situações por provocarem dor, muitas vezes são esquecidas pela família e o morto passa a ser não considerado na ordem de nascimento dos filhos. Cada posição na ordem de chegada à pátria pressupõe um determinado lugar, primogênito, filho do meio e caçula.

A família confirma a identidade da criança neste lugar. Cada lugar tem determinadas funções relacionais e depositações nos sistemas familiares.

Muitos filhos acreditam serem os primogênitos, lugar que determina uma série de consequências e quando não o são, se sentem perdidos, não sabem exatamente o que tomarem e o que não tomarem de seus pais.

Se tomam para si as funções do primogênito sem o serem, sentem em seu íntimo uma sensação de estarem invadindo algo, uma sensação de culpa da Consciência Pessoal, se sentem perdidos nesse espaço “vazio/ocupado” e em consequência, também deixam seu lugar “vazio/ocupado”.

Essa alteração de lugar é geradora de incongruência para sua plenitude na identidade. A influência da ordem de nascimento provoca buracos existenciais em uma família e esses buracos também atingem aos outros filhos que de acordo com a ordem de chegada ao sistema serão o segundo, o terceiro, o caçula e assim por diante. Os casos de meios-irmãos também devem ser considerados apesar de que, muitas vezes, não são revelados e acabam determinando a sensação do “ausente/presente’”.

Nas Ordens do Amor, cada vez que nasce, ou é gestado um filho, ele deve ter o seu lugar naquela família, faz parte de um sistema maior em que todos pertencem e cada um tem o seu lugar.

A Consciência Pessoal é responsável pelas sensações de “culpa ou inocência” na vida, é a consciência do pertencimento ao grupo com todas as suas consequentes dinâmicas.

A Consciência de Grupo tem como princípio dar a todos os mesmos direitos de pertencer e mantém constante vigilância para que esse direito seja reconhecido e respeitado por todos os que fazem parte do grupo. Essa consciência vincula poderosamente o grupo familiar e de forma inconsciente, sente uma exigência obrigatória de reparar compensatoriamente pelos que sofreram exclusões. Essa consciência grupai tem uma justiça própria e leva a emaranhamentos, tomando para si os cuidados com os rejeitados, os ignorados, os esquecidos e os mortos.

Essa consciência é uma consciência de inclusão, quer incluir todas as pessoas que direta ou indiretamente fazem parte do grupo e foram excluídas.

Os emaranhamentos da Consciência Grupal só são observáveis em seus efeitos, pois ela é oculta e se mostra nos sofrimentos dos sucessores, principalmente nos sofrimentos decorridos de sua inobservância. A Consciência de Grupo faz com que algum outro membro do grupo, que tenha chegado posteriormente ao sistema, venha a representar o excluído, como forma compensatória da exclusão ao anterior. Na justiça da Consciência de Grupo, os sucessores é que pagam pelos antecessores ocorrendo uma repetição compensatória de exclusão sobre o membro descendente, porém nada é solucionado, pois a condenação posterior não consegue fazer justiça aos antecessores.

Nos processos de vinculação, através da Consciência de Grupo os membros da família são unidos e dirigidos por uma alma comum, participam e obedecem a ordens que permanecem ocultas e que só se mostram, pelos seus efeitos. Somente nas transgressões dessas ordens, que os efeitos “funestos e destinos trágicos” se mostram na infelicidade, no insucesso ou nas doenças.

Nesta questão compensatória da Consciência Grupal Hellinger propõe uma solução curativa de inclusão dos excluídos:

(…) os excluídos devem receber as homenagens, o lugar e a posição que lhes compete e, os que vêm depois, deixam a culpa e as consequências com aqueles a quem ela pertence, retirando-se humildemente do assunto.

Esta proposta de cura ou solução mobiliza um sentimento paradoxal visto que, a resolução se encontra “associada ao medo inconsciente de perder o direito de pertencer e ao sentimento inconsciente de culpa e traição ao grupo”. Este sentimento paradoxal de culpa e medo de perda do pertencimento alcança sua “congruência” quando, num salto quântico, a consciência ultrapassa as leis da Consciência Pessoal e as leis da Consciência de Grupo e se estende para uma outra consciência, uma consciência maior, uma Consciência Espiritual.

Na Consciência Espiritual as leis determinantes são de “união” e alcançam tudo e todos.

Nesta consciência, as fronteiras de diferenciação do pessoal e do grupo familiar, deixam de ser separatistas, todos estão conectados, todos passam a ter o mesmo pertencimento e todos se encontram no amor maior, o amor incondicional.

A Consciência Universal ou Consciência Espiritual é uma consciência maior, uma consciência que se encontra criativamente conectada ao todo, integrada a um movimento de união e igualdade. E a consciência do perdão, a consciência da não existência de culpa e/ou inocência, já que a noção de culpa e inocência é advinda de um conceito de moralidade próprio da Consciência Pessoal, que é uma consciência arcaica e a Consciência Espiritual, é uma consciência evoluída.

A Consciência Universal ou Consciência Espiritual, não compactua com a noção de certo ou errado, nela todos igualmente têm direito ao pertencimento, todos estão certos, todos fazem parte, todos estão incluídos e todos estão no amor. E nessa Consciência Universal que se pode observar o processo da evolução da vida, uma criação eterna da vida no amor universal, incondicional.

EXPIANDO PELA CULPA

A doença frequentemente também pode ser usada como expiação de culpa nas situações nas quais o destino não oferece possibilidade de interferência: abortos espontâneos ou não, enfermidades, deficiência ou a morte prematura de uma criança.

Essa expiação pode levar a doenças, suicídios, acidentes e mortes. Para estes casos de expiação da culpa, Bert Hellinger sugere: olhar para os mortos, enfrentar a dor e deixar em paz o que passou, viver o luto da morte com a dor que lhe é própria.

Para apagar uma culpa, quer decorra de imposição do destino ou de um ato pessoal, as pessoas frequentemente recorrem à expiação, querendo pagar com danos próprios os prejuízos infligidos a outros. Assim pretendem “descontar” a culpa com a expiação e restituir o equilíbrio.

Bert Hellinger apregoa que a expiação serve de recurso para não encarar a relação, nas palavras do autor, buscar alívio prejudicando-me é algo que só posso fazer quando perco de vista a outra pessoa. Baseados nessa premissa, a solução consiste em olhar nos olhos a pessoa contra quem foi cometida a injustiça ou de quem foi exigida algo de mau e dizer: “sinto muito”, “agora eu lhe dou um lugar em meu coração”, “você terá parte no bem que eu fizer em sua memória, com você diante dos meus olhos”.