
Curso Constelação Familiar Sistêmica
O EQUILÍBRIO
O equilíbrio
Antes de continuar quero dizer algo sobre o equilíbrio nessas duas consciências. A necessidade do equilíbrio entre o dar e o tomar e entre o lucro e a perda é também um movimento da consciência.
A consciência pessoal que sentimos como boa e má consciência e como culpa e inocência, vela sobre o equilíbrio com sentimentos semelhantes, portanto também com sentimentos de culpa e inocência e com o sentimento de uma boa e má consciência. Só que aqui sentimos a culpa e a inocência de uma forma diferente.
A culpa aqui é sentida como dever, quando eu recebo algo ou tomei algo, sem devolver com algo equivalente.
A inocência aqui é sentida como estar livre de um dever. Temos esse sentimento de liberdade quando tomamos e também damos, de uma forma que o dar e o tomar esteja equilibrado.
Aqui devo ainda acrescentar que podemos alcançar o equilíbrio também de uma outra forma. Ao invés de devolver com algo equivalente, como não podemos algumas vezes, por exemplo perante nossos pais, podemos também passar adiante algo equivalente. Por exemplo aos nossos filhos.
A expiação
Nós equiparamos através do sofrimento. Isso também é um movimento da consciência. Se causamos sofrimento a alguém, também queremos sofrer para equilibrar e depois do sofrimento temos novamente uma boa consciência.
Essa forma de equilíbrio conhecemos como expiação. Entretanto, devemos observar aqui que é uma auto necessidade, porque ela não pode realmente dar algo para o outro, e com isso, equilibrando. Contudo, através dessa expiação o outro frequentemente não se sente mais sozinho em seu sofrimento.
Essa maneira de equilibrar tem pouco ou nada a ver com o amor. É antes de mais nada, instintivo e cego.
A vingança
Temos a necessidade do equilíbrio quando alguém nos fez algo de mau. Então queremos também fazer algo de mau a ele. Aqui a necessidade de equilíbrio se transforma em uma necessidade de vingança.
Entretanto, a vingança equilibra apenas no momento, porque ela desperta em todos os envolvidos outras necessidades de vingança, prejudicando-os no final.
A cura
Também na consciência coletiva existe o movimento de equilíbrio, contudo, está amplamente oculta de nossa consciência. Quem precisa representar um excluído, não sabe que está equilibrando.
O equilíbrio é aqui o movimento de um todo superior que equipara impessoalmente porque aqueles que são atraídos para equilibrar são inocentes, no sentido da consciência pessoal.
Podemos comparar essa forma de equilíbrio a um processo de cura. Aqui também algo que foi ferido é reestabelecido sob a influência de poderes superiores. A consciência coletiva quer reintroduzir algo que foi perdido e dessa forma trazer novamente a ordem em tudo e curar.
A hierarquia
Volto a falar das ordens da consciência coletiva e direi algo sobre a segunda ordem, que está a serviço da consciência e que tenta restaurá-la, quando foi ferida.
Essa ordem exprime que cada indivíduo de um grupo deve e precisa assumir o lugar que lhe pertence de acordo com a sua idade.
Isso significa que aqueles que vieram antes, têm precedência em relação aos que vieram mais tarde. Por isso, os pais têm precedência em relação aos filhos, e o primeiro filho tem precedência em relação ao segundo.
Portanto, cada um tem o seu próprio lugar que pertence somente a ele. No decorrer do tempo ele se desloca dentro da hierarquia de baixo para cima, até que cria sua própria família e nela assume imediatamente com seu parceiro o primeiro lugar.
Aqui se impõe uma outra ordem de hierarquia, uma hierarquia entre as famílias, por exemplo, entre a família de origem e a própria família nova. Aqui a nova família tem primazia perante a antiga.
Esta ordem também é válida se um dos pais inicia, durante o casamento, um relacionamento com um outro parceiro, do qual nasce uma criança. Com isso ele cria uma nova família que tem prioridade em relação à primeira.
A família posterior não anula o vínculo com a anterior, assim como a família nova não anula o vínculo com a família de origem. Contudo, ela tem prioridade em relação à anterior.
- A violação da hierarquia e suas consequências
A hierarquia é violada quando alguém que veio mais tarde quer assumir uma posição superior a daquela que lhe cabe de acordo com a ordem hierárquica. Essa violação da ordem hierárquica é, na verdade, como se sabe, um orgulho que precede a queda.
As violações mais frequentes da hierarquia observamos nas crianças. Em primeiro lugar quando se elevam acima de seus pais. Por exemplo, quando se sentem melhores que os seus pais e se comportam de forma correspondente. Isso é uma violação da hierarquia sem amor.
Essa hierarquia é principalmente violada quando a criança quer assumir algo pelos pais. Por exemplo, quando ficam doentes no lugar deles e querem morrer. Aqui a hierarquia é violada com amor. Entretanto, esse amor não protege a criança das consequências da transgressão da ordem.
O que existe de trágico nisso é que a criança transgrida a ordem de boa consciência. Isso significa, sob a influência da consciência pessoal a criança se sente especialmente inocente e boa, através dessa transgressão. Isso também significa que com isso também se sente pertencente de uma forma especial.
Portanto, aqui essas duas consciências se opõem. A hierarquia, que impõe e protege a consciência coletiva, é violada em sintonia com a consciência pessoal. Nesse sentido ela é conscienciosa. Aqui a consciência pessoal impele alguém a transgredir essa ordem e sofrer as consequências dessa transgressão.
Quais são as consequências dessa transgressão? A primeira consequência é o fracasso. A pessoa que se eleva em relação aos pais, seja sem amor ou com amor, fracassa. Isso é válido não tão somente dentro da família, mas também em outros grupos, por exemplo, em organizações.
Muitas organizações fracassam através de conflitos internos, nos quais uma pessoa que é admitida depois ou um departamento que é criado posteriormente se eleva, dentro da hierarquia, em relação a um anterior que tem precedência.
Na verdade, o fracasso, como consequência da violação da hierarquia é a morte. O herói trágico quer assumir algo por aqueles que lhe precedem. Contudo, ele não apenas fracassa, ele morre.
Vemos algo semelhante com as crianças, que carregam e querem assumir algo pelos pais. Elas lhes dizem internamente: “Melhor eu do que você.” O que realmente está contido nisso? Significa, por fim: “Eu morro no seu lugar.”
A hierarquia é a ordem da paz. Ela está a serviço da paz na família e no grupo. Ela está, no final, a serviço do amor e da vida.
O alcance
Até que ponto a consciência coletiva alcança? Somente os mortos que conhecemos pertencem? Ou essa consciência quer trazer de volta também os excluídos de muitas gerações anteriores? Talvez até nós, como éramos em uma vida anterior? Talvez até esteja a serviço de um movimento cósmico para o qual nada pode ficar perdido, nada que tenha existido? Nós também violamos essa hierarquia através de nossa crença de progresso como se nós fôssemos melhores do que nossos antepassados? Como se fôssemos superiores a eles?
O que acontece conosco se nos colocarmos internamente no nosso lugar adequado, humildemente no último lugar?
Se nós incluirmos no nosso presente todos aqueles que foram excluídos, não importam quais os motivos e aqueles que precisaram morrer antes de ter cumprido o seu tempo total, com aquilo que ainda lhes falta, então não estaremos também completos com eles?
A CONSCIÊNCIA ESPIRITUAL
A consciência espiritual reage a que? Ela responde a um movimento do espírito, aquele espírito que movimenta tudo, se movimenta e que movimenta tudo de uma forma criativa. Tudo está submetido a esse movimento, não importando se isso seja ou não o nosso desejo, não importando se nos submetemos ou resistimos a ele.
A pergunta é apenas, se nós nos percebemos em sintonia com esse movimento, se nós nos submetemos a ele de boa vontade e permanecemos em sintonia com ele, de maneira sábia.
Quer dizer, se nós somente nos movimentamos, pensamos, sentimos e agimos até o ponto em que percebemos que estamos sendo conduzidos, levados e movimentados por ele.
O que acontece conosco quando sabemos estar em sintonia com esse movimento?
O que acontece conosco quando talvez o nosso desejo seja o de nos afastarmos desse movimento porque a sua reivindicação nos pareça ser grande demais, nos provocando medo? Experimentamos aqui, em relação à consciência espiritual, aquilo que podemos comparar com a consciência pessoal.
Se experimentamos estar em sintonia com os movimentos do espírito, nos sentimos bem. Sobretudo, nós nos sentimos calmos e sem preocupações. Sabemos do nosso próximo passo e temos a força de dá-lo. Isso seria, por assim dizer, a boa consciência espiritual.
Como em relação à consciência pessoal aqui também sabemos imediatamente se estamos em sintonia. Contudo, esse conhecimento aqui é espiritual. A boa consciência é a entrega sábia a um movimento espiritual.
O que é, sobretudo, esse movimento espiritual? É um movimento de dedicação a tudo, assim como é, que está de acordo com a dedicação do espírito a tudo, assim como é.
Como é que experimentamos então uma má consciência espiritual, aqui novamente de modo análogo ao sentimento de culpa da consciência pessoal? Como sentimos a má consciência espiritual? Nós a sentimos como inquietação, como bloqueio espiritual. Nós não nos conhecemos mais, não sabemos o que podemos fazer e nos sentimos sem força.
Quando é que temos sobretudo uma má consciência espiritual? Quando nos desviamos do amor espiritual. Por exemplo, quando excluímos alguém de nossa dedicação e de nossa benevolência. Nesse momento, perdemos a sintonia com o movimento do espírito. Estamos entregues a nós mesmos e temos uma má consciência.
Contudo, como na consciência pessoal, a má consciência também está aqui a serviço da boa consciência. Ela nos reconduz através de seu efeito para a sintonia com os movimentos do espírito, até que fiquemos novamente calmos e nos tornemos um com o seu movimento de dedicação e amor por todos e por tudo, assim como é.
A consciência espiritual
Em primeiro lugar, observo aqui as Constelações Familiares partindo do fim do caminho percorrido por elas, portanto, do ponto de vista da consciência espiritual.
Em retrospectiva ao caminho percorrido até agora, reconhecemos de forma mais clara o significado das outras duas consciências. Reconhecemos também onde é que chegam aos seus limites. A consciência espiritual nos conduz para além desses limites.
A diferenciação das consciências
O que diferencia sobretudo as diferentes consciências, e o que lhes impõe limites? É o alcance de seu amor.
A consciência pessoal está a serviço do vínculo a um grupo limitado, exclui outros que não pertencem a esse grupo. Não une somente, também separa. Não ama somente, também rejeita.
A consciência coletiva vai para além da consciência pessoal, pois também ama aqueles que foram rejeitados e excluídos dentro da família e dentro de grupos similares pela consciência pessoal. A consciência coletiva quer também trazer de volta os excluídos, para que possam fazer parte novamente. Por isso, o seu amor vai além. Não exclui ninguém.
Contudo, em seu campo de visão não tem tanto o bem-estar de cada um. Senão, não poderia obrigar um inocente que não estava envolvido na exclusão, a representar um excluído, embora com isso lhe imponha algo pesado. Aqui se mostra que essa consciência não é pessoal, mas coletiva, que deseja principalmente a totalidade e a ordem em um grupo.
Os movimentos do espírito, ao contrário, se dedicam igualmente a todos. Quem entra em sintonia com os movimentos do espírito não pode fazer de outra forma a não ser se dedicar igualmente a todos com benevolência e amor, não importando qual seja o seu destino.
Este amor não conhece fronteiras. Supera as diferenciações entre o melhor ou o pior e entre o bom e o mau. Por isso, supera os limites da consciência pessoal e os limites da consciência coletiva. Está dedicado de forma igual a cada um e a todos em sua família e nos outros grupos dos quais faz parte.
A consciência espiritual vela sobre este amor. Entra em jogo, quando nós nos desviamos dela.