
Curso Constelação Familiar Sistêmica
O PSICODRAMA
Fundamentos
O psicodrama surge como um aprofundamento da psicoterapia de grupo, ampliando-a para torná-la mais eficaz. Parte da premissa da espontaneidade criadora e, portanto, há centenas de técnicas existentes e tantas outras que podem surgir, conforme as necessidades.
O tablado ou o palco aparece como um elemento que deu à prática um caráter oficial, podendo ser utilizado quando necessário, fazendo parte do grupo. Para se operar, o psicodrama leva em consideração três diferentes contextos:
Contexto social: é o que equivale à realidade social do indivíduo, responsável pelas regras e costumes impostos ao sujeito, além de fornecer o material que o paciente fornece, de acordo com o seu ponto de vista.
Contexto grupal: formado pelo próprio grupo, inclui os integrantes, o terapeuta e as relações entre todos, bem como o produto delas. Apesar do enfoque terapêutico para este contexto ser o mesmo, cada grupo é único.
Contexto dramático: diz respeito à cena montada pelo protagonista e pelo diretor, na qual há segurança e proteção para que o protagonista possa expressar todos os sentimentos mais obscuros e realizar os mais temidos desejos.
O psicodrama se organiza em fases, comumente utilizadas, além de requerer algumas condições específicas, que serão descritas a seguir.
Aquecimento: momento em que a cena é selecionada e o personagem principal é eleito, partindo de uma situação de relaxamento e receptividade para que, espontaneamente, o conteúdo emerja.
Inicialmente, há o aquecimento inespecífico. O diretor se comunica com a plateia e possibilita o clima adequado para que o protagonista atue. O aquecimento específico prepara o protagonista para a dramatização, quando ele já está em ação. O diretor o auxilia e os ego-auxiliares vão se aproximando conforme o protagonista delega, sendo necessário, em alguns momentos, aquecimento específico para determinado personagem, ainda que a dramatização já tenha sido iniciada.
Ação ou dramatização: é a ocasião da dramatização em si, quando o protagonista explora os meios de solucionar o problema. O material trazido pelo protagonista é tratado com técnicas ativas. O diretor conduz a cena inicialmente e retira-se na sequência, deixando o espaço para o protagonista.

Os ego-auxiliares, isto é, os demais personagens, entram em cena para compor o quadro, sempre dirigido pelo protagonista a partir de um conflito passado ou futuro.
Participação do grupo e feedback: nesse momento, o público compartilha com o protagonista os sentimentos evocados, fazendo com que ele possa vislumbrar o quanto foi compreendido ou não em relação ao conteúdo expresso. O diretor deverá ser hábil o suficiente para conduzir a discussão na direção do crescimento do grupo, permitindo que determinados conteúdos sejam trabalhados nos demais encontros.
As cinco condições necessárias ao funcionamento do psicodrama, de acordo com Moreno, são:
Cenário: é o espaço vital supradimensional e móvel onde se realiza a dramatização, preferencialmente composta por um palco circular com três degraus para os atores e um balcão para uso do “super-ego”. Constitui-se como uma ampliação da vida real.
O nível mais baixo é comumente o da concepção, no qual se dá o aquecimento e o encontro com o protagonista; no segundo nível representa o crescimento, no qual diretor e protagonista planejam as primeiras cenas; o terceiro, por sua vez, é o da consumação e da ação.
Pode haver ainda um quarto nível, a galeria, quando há necessidade de diferenciar um personagem como herói ou messias dos demais. Sugere-se um espaço tridimensional, que favoreça o seu uso para vários fins. É nele que se constitui o campo terapêutico do psicodrama, no qual será operado o contexto dramático. É aconselhável que haja um sistema de iluminação adequado, que permita o foco em uma ou outra direção. Materiais de uso comum, tais como quadros negros, cobertores e giz podem estar à disposição.
Protagonista: é a pessoa selecionada para representar o tema do grupo, podendo ser qualquer um do grupo, desde que ele queira e o grupo concorde. No caso da terapia individual, trata-se do paciente.
O tema dirá respeito a algum conteúdo que ele próprio traga e a representação será de acordo com as suas experiências, passadas ou futuras, de forma que ele seja o máximo possível ele mesmo.
Há um aquecimento, no qual diversos métodos são utilizados, para que o sujeito seja, no cenário, tanto quanto possível, como ele é na vida real.
O diretor: profissional Terapeuta ligado à escola de psicodrama que siga as normas pré-estabelecidas. Ele pode ocupar a função de produtor, discriminando o conteúdo trazido pelo protagonista e orientando-o na dramatização, favorecendo o insight; pode atuar como terapeuta, mantendo o enfoque terapêutico nas sessões; e pode ser o analista social, que analisará o material trazido por todos os integrantes, devolvendo-os a eles.
Os egos auxiliares: indivíduos que irão assumir papéis significantes ao longo do desenvolvimento da cena, quando o trabalho é realizado em grupo. Devem ter preparo psicológico para favorecer o processo terapêutico. Há algumas funções específicas, tais como a “função do ‘duplo’”, no qual uma parte, papel ou função do protagonista é representada, ou a “função de feedback”, que implica na representação daquilo que eles sentiram ao ver o protagonista.
Pode ainda ser “ator”, encenando o papel solicitado pelo protagonista, ou “agente terapêutico”, agindo como prolongamento do diretor, conduzindo a cena para direções terapêuticas. Por fim, pode ser “investigador social”, podendo observar e registrar as características do vínculo do protagonista.
A plateia, o grupo ou o auditório: composta pelos espectadores e pelos ego-auxiliares, que fornece o feedback ao protagonista. É o que garante a veracidade da vivência, uma vez que o protagonista irá emergir do grupo e atuar como se, de fato, estivesse vivendo a sua vida, sendo observado, julgado ou elogiado pelos demais.
Existem diversos métodos utilizados no psicodrama e tantos outros são criados constantemente, uma vez que o uso da criatividade é uma premissa básica.
Os métodos mais comuns do psicodrama, que dizem respeito à ação do ego-auxiliar, dentre as centenas existentes, são:
Desdobramento do eu: o ego auxiliar coloca-se ao lado do protagonista e adota seu comportamento, evidenciando características possivelmente despercebidas por ele.
Inversão de papeis: o papel do protagonista é trocado com seu interlocutor. Bem aplicada, a técnica traz benefícios consideráveis, sendo muito utilizada por conta de sua simplicidade
Solilóquio: qualquer um dos personagens pode usar esta técnica, que consiste em dizer em voz alta o que se está pensando em relação ao que está acontecendo. É necessário virar a cabeça para o lado, para esclarecer que se trata de um solilóquio.
Espelho: bastante delicada essa técnica implica em uma aplicação por parte de alguém que se sinta à vontade em relação ao protagonista, para evidenciar a ele suas atitudes típicas sem que pareça estar zombando.
Auto apresentação: consiste na representação simples, dirigidas pelo próprio protagonista, das personagens e situações de sua vida.
Interpolação de resistência: o diretor modifica a cena proposta pelo protagonista, fazendo com que ele atue num contexto determinado.
Realização simbólica: nessa técnica realizam-se fatos irreais para representar outros acontecimentos, possivelmente difíceis de serem acessados concretamente.
Psicodrama com marionetes: muito utilizada com crianças, essa prática é utilizada em períodos específicos. O diálogo é realizado com as marionetes, sendo que elas ocupam o espaço de objeto intermediário.
