Curso Constelação Familiar Sistêmica

OS CÍRCULOS DO AMOR (PARTE 2)

3º CÍRCULO DO AMOR: O DAR E O TOMAR

Estamos acostumados com a expressão “dar e receber” e à primeira vista o termo “tomar” pode nos parecer estranho, pois acostumamos a ouvir a expressão tomar como sinônimo de roubo ou de pegar de uma forma abrupta. Mas aqui ele é empregado no sentido de “tomar para si”, uma vez que nem tudo que recebemos nós tomamos posse.

Esse terceiro círculo do amor nos encontra na vida adulta. Nossa vida adulta, como vimos no círculo anterior, tem efeitos diretos da nossa gestação e da nossa infância. Na vida adulta as nossas trocas com as pessoas se intensificam e se alargam. Encontramos amigos e um parceiro/a amoroso.

Adultos aprendemos porque nossos pais não esperavam nada em troca do amor que nos davam. Adultos, aprendemos que para viver uma vida de plenitude temos que aprender a oferecer sempre o melhor de nós, em todas as circunstâncias, sobe qualquer situação, diante de quem quer que seja: não podemos oferecer ao outro e ao mundo, menos que o melhor de nós.

Tudo o que ofertamos como o melhor de nós tem valor. Grande valor! Da mesma forma, só tomamos do outro aquilo que para nós tem valor. Na verdade, o receber é um movimento natural de quando aprendemos a dar, devemos então tomar posse do que nos é ofertado pelas pessoas, agregando em nós aquilo que é bom.

Acontece às vezes que uma pessoa pode ter algum interesse amoroso em nós, por exemplo, mas esse interesse não se torna recíproco. Algumas pessoas podem tomar atitudes agressivas para quem demonstra esse interesse, algumas podem agir com deboche, ironia e até orgulho. Essa imaturidade emocional impede de tomarmos para nós a beleza que é ter despertado em alguém tal interesse.

Aliás, um dos pontos importantes desse círculo é o amor entre duas pessoas. Se tivermos vivido plenamente o amor de nossos pais, nossa infância e puberdade, buscaremos alguém não porque há uma falta em nós, mas procuraremos alguém para amar por inteiro, assim como também estaremos inteiros nesse amor.

A troca amorosa entre duas pessoas é o ápice dos movimentos de dar e receber. Nos relacionamentos amorosos queremos, de início, sempre mostrar o melhor de nós, e também buscamos ver apenas o melhor do outro. É mantendo essa visão que tornamos os relacionamentos mais saudáveis, felizes e duradouros.

Por isso é tão importante trabalhar o amor dos dois primeiros círculos: todas as questões que não estiverem resolvidas em nós com relação a nosso pai e nossa mãe, voltarão como crises, disputas, insegurança e agressão nos nossos relacionamentos. Um círculo pleno de amor transborda e deixa o próximo círculo também repleto de amor. É preciso quebrar e não repetir os padrões, quando estes são de dor e angústia.

O equilíbrio entre o dar e o tomar fazem a harmonia das relações. Dar de nós em demasia nos deixa enfraquecidos e pouco motivados. Da mesma forma que tomar demais do outro sem oferecer nada, desgasta, gerando o fim da relação. Seja com os amigos, o parceiro ou a família, toda relação exige equilíbrio, exige troca.

Só mantemos as relações nas quais ganhamos alguma coisa. Plenos de nós mesmos, somos capazes de dar sempre a nossa melhor parte, entregando a parte mais bela e benéfica de nós, do nosso trabalho, da nossa inteligência, do nosso afeto.

Emanando essa energia, teremos também dos outros sempre a sua melhor parte, e tomaremos para nós aquilo que agregará em nossa vida e na nossa existência. Não podemos viver nesse mundo sem nos relacionarmos, então temos que construir as melhores relações possíveis.

4º CÍRCULO DO AMOR: CONCORDAR COM TODOS OS SERES HUMANOS

Esse círculo exige de nós uma expansão da nossa capacidade de amar e de compreender as redes que formam a nossa vida. A palavra ‘concordar’ nas traduções de Bert Hellinger é interessante, ela vem dizer sobre uma concordância no campo da aceita. Quando que digo ‘eu concordo’, estou dizendo ‘eu aceito, eu compreendo’.

No quarto círculo do amor reconhecemos que todas as pessoas da nossa rede familiar têm o direito de pertencer a essa rede. Devemos ter aceitação absoluta de todo o nosso sistema, concordando com a sua existência exatamente do modo como ele é.

Todo sistema familiar acaba agregando pessoas e excluindo pessoas, mas a exclusão não gera o amor que buscamos.

A exclusão é o resultado de um processo de julgamento: julgamos as pessoas pelo que são, pelo que fazem, pelo que acreditam e cassamos o seu direito de pertencer a um sistema.

Quais motivos te levam a julgar as pessoas da sua família? Talvez essa pessoa tenha se casado com alguém que não obteve a simpatia da família, talvez ela se comporte de uma forma que não tem aprovação entre os demais, talvez seja um caso de homossexualidade que a família ainda não consegue lidar, enfim… há muitos motivos, mas apenas uma consequência: com a exclusão diminuímos nossa capacidade de amar.

É um desafio. Concordar em amar o grupo ao qual pertencemos não é uma tarefa simples, porque somos egoístas e incapazes de valorizar o outro como ele é, por isso nossa sociedade enfrenta tantos problemas de base relacional e familiar. Mas assim como você, todas as pessoas excluídas têm o mesmo direito a pertencer a esse sistema familiar.

Concordar com todas as pessoas da família como são, segundo Hellinger, é algo que ultrapassa nossa consciência. Por mais que digamos “o fulano não faz falta” nossa alma está incompleta por essa ausência, que se caracteriza por uma lacuna, um não-correspondente, no nosso sistema familiar.

Para trabalharmos o quarto círculo do amor, pensemos nos excluídos, nos menos queridos e nos incompreendidos, que rejeitamos, julgamos e desprezamos.

5º CÍRCULO DO AMOR: CONCORDAR COM O MUNDO – SERVIÇO PARA A HUMANIDADE

Esse quinto círculo é tão importante que, se vivêssemos seus ensinamentos, não haveriaM mais guerras por diferenças culturais. O último dos círculos nos convoca a amar a toda a humanidade, a todos os seres humanos, coo são, acreditando exatamente nas coisas que eles acreditam.

Eu tenho certeza que você já criticou alguma  cultura do mundo, ao ver uma reportagem. As mulheres que usam determinadas vestimentas, culturas que comem determinado alimento, que praticam determinados rituais. É exatamente assim, do jeito que o mundo é, do jeito que os seres humanos são, que devemos amá-los, sem julgamentos, sem ‘mas’. É o nível mais espiritual e integrativo do nosso caminho do amor.

Quero usar as próprias palavras de Hellinger para falar sobre esse círculo. Ele diz: “Para mim, todos os seres humanos são bons. Cada um é apenas da maneira como pode ser. Ninguém pode ser diferente do que é, em sua situação.” Somos pegos o tempo todo querendo que as pessoas fossem diferentes. Dizemos que “era só ter um pouco de força de vontade que ele conseguiria”. Para de dizer isso, você não viveu a vida daquela pessoa. É provável que na situação dela, você tivesse feito as mesmas coisas e estivesse exatamente no mesmo lugar. É preciso aceitação e para aceitação é preciso amor.

Vivemos um tempo de guerras, algumas delas por motivos religiosos. Grupos extremistas não aceitam que outras pessoas tenham uma fé diferente da sua, ou adorem a Deus de uma outra forma. Sob esse argumento, mata-se famílias, cidades são devastadas. Nas redes sociais, basta alguém se mostrar de uma maneira diferente dos padrões para ser vítima de toda forma de violência e ameaça.

Concordar com nosso sistema familiar (quarto círculo) é difícil e exige de nós uma entrega muito grande, mas ainda fica um resquício de obrigatoriedade, como se fossemos obrigado a amar nossa família, justamente por estarmos ligados ao mesmo sistema. Agora, quando falamos de estender esse amor para todo o Universo e todos os seres viventes, chegamos em um nível muito profundo de consciência – ele ultrapassa a obrigatoriedade, a lógica, e se aproxima da benevolência, da divindade.

A devastação da Amazônia, por exemplo, influencia as chuvas na África. Mas o que você tem a ver com a África, não é mesmo? Mas saiba   que tudo no universo influencia na sua vida, pois todos os sistemas estão interligados.

Então, a plenitude do amor aos nossos pais nos leva a construir uma infância plena e uma adolescência plena. Com aceitação e amor, construímos relações boas, saudáveis, que nos conduzem ao aprendizado e à felicidade. Nos relacionamos amorosamente e construímos relações em que tomamos do outro sempre algo de valor, que contribuem com nossa vida, damos e tomamos o tempo todo, para nos construirmos quem somos e quem os outros são, num afeto mútuo.

Com essa maturidade, conseguimos reunir todo o nosso sistema familiar, aceitando e agregando as pessoas que por um motivo ou outro foi excluída, julgada, desprezada, concordando com nosso sistema exatamente como ele é, aceitando cada pessoa e cada situação. Para transbordarmos nosso amor, passamos a concordar com o mundo como ele é, com suas incongruências e disparidades, com seu caos e suas belezas infinitas e, sobretudo, passamos a amar todos os seres exatamente como eles são. Amando a todos os seres atingimos o mais espiritual e integrativos dos níveis: o amor divino.