Curso Constelação Familiar Sistêmica

TÉCNICAS (PARTE 2)

6 – Entrevista inicial

Após a seleção do protagonista, ocorre a entrevista inicial entre o diretor e o protagonista. Isso serve a muitos propósitos, incluindo:

  • Para continuar o aquecimento do protagonista
  • Continuar o aquecimento do grupo a partir do tema do psicodrama
  • Para aquecer o diretor para a próxima encenação
  • Para o protagonista e o diretor desenvolverem ainda mais confiança, conexão e compreensão
  • Para o protagonista e o diretor criarem um contrato para o objetivo do psicodrama
  • Para o diretor reunir informações importantes sobre o tema apresentado

Moreno sugeriu que a entrevista inicial fosse curta para evitar falar sobre o assunto em vez de colocá-lo em ação. 

Muitos diretores de psicodrama conduzem a entrevista inicial enquanto andam em círculo no palco com o protagonista para criar um movimento físico.

7 – Configuração de Cena

A configuração da cena é empregada quase imediatamente após a entrevista inicial. Essa técnica é significativa na medida em que marca o mergulho inicial da realidade para a realidade excedente. 

O diretor encoraja o protagonista a escolher um cenário para a encenação do psicodrama e a começar a usar objetos ou atores para montar a cena. 

Isso é feito através do simbolismo criativo e da concretização. 

O processo de configurar fisicamente a cena move o protagonista para a ação e aquece seu corpo, sua imaginação e suas emoções, ao mesmo tempo em que aquece o grupo para o protagonista e a próxima encenação. 

Por essas razões, muitas vezes é útil permitir que o protagonista monte a cena sozinho. Em vez de falar sobre a cena, o protagonista é instruído a nos mostrar a cena no palco.

8 – Auto apresentação

Essa técnica facilita o protagonista a mostrar com precisão como ele e/ou outros agem em determinada situação. 

A auto apresentação é frequentemente usada como uma cena inicial em um psicodrama para avaliação, estabelecendo o ponto de partida e para aquecer o protagonista e entrar na realidade excedente. 

Moreno escreve que é especialmente útil como uma intervenção precoce para ajudar a reduzir a ansiedade, aumentar a espontaneidade e estabelecer a tele entre o protagonista e o facilitador.

Moreno a descreve como a técnica psicodramática mais simples. 

A auto apresentação permite que o protagonista exteriorize sua própria realidade subjetiva, perspectiva e experiência, que é usada como base para avançar na encenação do psicodrama. 

Esta técnica é usada para situações passadas, presentes ou futuras.

9 – Improvisação Espontânea

Essa técnica leva o diretor a facilitar o protagonista na representação de papéis ou respostas fictícias ou imaginadas na cena, em vez de representar suas respostas reais. 

De certa forma, a improvisação espontânea é o oposto da intervenção da auto apresentação – uma sendo a atuação da realidade enquanto a outra é fictícia. 

A tarefa é desafiar o protagonista a deixar seu próprio papel e assumir o papel de um personagem fictício – para acessar a espontaneidade de um papel diferente do seu eu. 

O uso da improvisação espontânea permite ao diretor colocar uma forte demanda de papel sobre o protagonista, ao mesmo tempo em que lhe dá um distanciamento estético da intensidade do tópico inicial do psicodrama.

O seguinte texto é um uso clínico da improvisação espontânea. 

No psicodrama de John, ele enfrenta seu vício, mas fica preso no encontro e não consegue encontrar as palavras ou a espontaneidade para responder ao seu vício. O diretor pausa a cena, colocando John no papel de um pai protegendo sua família de uma gaivota que vem jantar. 

Neste papel, John é capaz de acessar a espontaneidade para enfrentar a gaivota sem hesitação. Embora o conteúdo desta cena seja muito diferente, o processo e as exigências do papel são semelhantes. 

Depois disso, a cena original pode ser revisitada, pois John foi treinado por meio de improvisação espontânea.

A técnica da improvisação é o caminho real do treinamento da espontaneidade, pois lança o paciente em papéis, situações e mundos nos quais ele nunca viveu antes e nos quais ele tem que produzir instantaneamente um novo papel para atender ao novo ambiente. 

Mais do que terapia é fornecido o treinamento e o desenvolvimento de uma nova personalidade que pode diferir muito daquela que foi trazida para tratamento.

Essa técnica também fornece informações diagnósticas ao diretor sobre a capacidade do protagonista de acessar a espontaneidade e papéis alternativos. É útil como um aquecimento espontâneo, uma intervenção dentro de uma encenação de psicodrama e um exercício de aterramento após a intensidade de um psicodrama.

10 – Esculpindo

Esculpir descreve o processo de usar auxiliares para concretizar as relações percebidas dentro de uma família, átomo social, sociograma, memória de uma experiência ou mesmo partes internas de si mesmo. 

Outros membros do grupo são escolhidos para atuar como auxiliares necessários para a cena e são direcionados pelo protagonista em termos de localização, distância dos demais papéis, postura, movimento, mensagens e/ou expressão. 

As intervenções de duplicação e inversão de papéis também são utilizadas na escultura de ação. 

Esse processo fornece uma expressão exteriorizada e funcional da estrutura de um sistema. Uma escultura de ação é muito mais contida, mais lenta e prescrita do que um processo de psicodrama. Também emprega a intervenção do espelho com muito mais regularidade do que uma encenação de psicodrama. Por essas razões, é útil para grupos com tempo limitado, grupo menos aquecido, participantes menos experientes e demonstrações. O uso da escultura tornou-se popular além do psicodrama, especialmente na terapia familiar.

11 – Interpolação de Resistência

Esta intervenção descreve o processo de testar a espontaneidade do protagonista, no sentido de responder a novas situações, modificando a cena do psicodrama. O protagonista apresenta a situação, e ela é encenada com um desfecho roteirizado, então o diretor modifica a cena de forma a alterar os principais elementos e colocar novas demandas de papel sobre o protagonista na cena.  

Por exemplo:

Adam acaba de se engajar em uma auto apresentação de uma dinâmica relacional recorrente em seu casamento. 

Ele demonstra como ele e seu parceiro frequentemente se encontram em uma discussão onde nenhum deles pode se conectar com o outro porque ambos se tornam defensivos e cautelosos. 

Adam descreve chegar a um ponto em que se sente incapaz de admitir que seu parceiro está certo sobre qualquer coisa e se torna cada vez mais combativo. O diretor instrui Adam e os auxiliares a repetirem a cena, esperando que a combatividade de Adam seja ativada. Uma vez que Adam e seu parceiro estão envolvidos na rejeição de cada afirmação que o outro faz, o diretor instrui o auxiliar no papel de companheiro de Adam para começar a incluir declarações relacionadas ao conteúdo de sua discordância que sejam inegavelmente verdadeiras, como “já estamos casados ​​há 4 anos” ou “estamos brigando há cinco minutos”. 

As declarações factuais afastam Adam, pois ele não pode negar que são verdadeiras – ele é desafiado a responder de uma nova maneira, em vez de continuar a rejeitar cada declaração. Ele começa a contemplar cada declaração de seu parceiro por seu mérito e verdade antes de responder.

Esta intervenção tenta descobrir novas respostas comportamentais e aspectos da personalidade do protagonista. 

O uso da interpolação de resistência pode ser usado para ajudar um protagonista a acessar uma nova espontaneidade que posteriormente pode ser integrada à realidade de uma situação interpessoal.

12 – Jogos

Os jogos grupais são frequentemente envolvidos em grupos de psicodrama no processo de aquecimento ou resfriamento. 

Jogos simples e lúdicos são implementados com o objetivo de aumentar a espontaneidade, confiança, coesão e movimento – ou no contexto de desaquecimento após um grupo intenso, com o objetivo de reconectar o grupo com uma sensação de diversão, aterramento e espontaneidade em o aqui e agora. 

A maioria dos jogos empregados em grupos de psicodrama foram emprestados de outros campos, como os jogos teatrais, improvisação, dramaterapia.

O uso de jogos também pode ser rastreado até o trabalho social com a prática de grupos, especificamente na abordagem não deliberativa. 

Os jogos e atividades em grupo servem para “engajar os membros e promovê-los interacionalmente em direção à conquista da grupalidade, mobilizando e aprimorando as capacidades interacionais naturais dos participantes”. 

As atividades em grupo oferecem oportunidades para os participantes sentirem um sentimento de pertencimento e desenvolverem “conexão entre o eu e o mundo externo e experimentarem a si mesmos como eficazes no mundo”. 

A ação e a natureza experiencial dos jogos criam um espaço lúdico para aumentar a autoeficácia, a autoconfiança e as habilidades sociais.