Curso Constelação Familiar Sistêmica

UM NOVO OLHAR PARA O SUICÍDIO

CONSTELAÇÃO SISTÊMICA E UM NOVO OLHAR PARA O SUICÍDIO

O suicídio não possui barreiras sociais, econômicas ou geográficas.

Em nossa sociedade falar em morte não é algo muito agradável, e quando se trata de suicídio o assunto torna-se ainda mais difícil, e justamente pelo fato do suicídio ainda ser tabu nos dias atuais, nós não falamos, escondemos, temos medo ou vergonha e quando menos imaginamos, alguém do nosso lado chega ao suicídio.

No entanto sempre pensamos que nunca vai acontecer em nossa família, em nossa casa ou com um amigo, pensamos que isso é algo que acontece lá longe, parece muito distante de nossa realidade, de nossa vida, nunca imaginamos que teremos que lidar com isso.

Mas de repente acontece com a gente, acontece na nossa família.

E então, como lidamos com isso?

O dia é 01.09.2013, um domingo, às 06h00 da manhã o telefone tocou! Acordei assustada, domingo 06h00! Meu marido foi atender e de volta ao quarto, ao lado da cama, deu a notícia que meu pai havia sofrido um infarto e não havia resistido, havia falecido, e eu tinha que ir logo, precisavam de mim lá.

Levantei, preparei-me, dei algumas coordenadas sobre a minha filha caçula, que na ocasião estava com 4 meses de idade e segui para a casa de meus pais (em uma cidade vizinha) no caminho eu pensava chegou a hora dele, ele cumpriu sua missão, está tudo bem. Tentava em vão me convencer de que estava tudo bem.

Porém, ao chegar lá, na casa de meus pais, uma de minhas irmãs correu até mim aos prantos, desesperada, me abraçou e disse, olha o que que ele fez minha irmã, olha o que o nosso pai fez! Eu, sem entender, perguntei, como assim? Ela respondeu, ele se matou, ele se enforcou, igual aos irmãos dele.

Neste momento meu mundo caiu, tudo mudou. Suicídio! Como assim? Nós tínhamos um almoço juntos naquele domingo, almoço em família. Como assim, ele desistiu da gente? Desistiu da família?! Da vida?! Como pode?!

Quando um ente querido chega ao suicídio queremos saber o porquê. Procuramos por uma carta, um bilhete, alguma coisa que dê o mínimo de sentido naquilo, buscamos uma resposta, alguém que saiba de algo, qualquer coisa. No caso do meu pai, não havia nada, nenhuma resposta.

Imediatamente vem aquela enxurrada de emoções, sentimos culpa, sentimos medo, sentimos raiva, indignação, nós julgamos, nós culpamos, nós excluímos e por ai vai, mas nada disso nos alivia, nada resolve, não há volta, está feito.

Eu pensava comigo, e se eu correr até ele, mexer com ele, chamar, será que ele volta a viver? Ilusão e puro desespero. Os policiais no local nem me deixaram ver o corpo na situação que estava.

Pois é assim, o suicídio mexe com toda a emoção e estrutura familiar.

E o que leva uma pessoa a desistir da vida? Por que uma pessoa chega a isso? O que pode ser mais forte que o instinto de sobrevivência? Seria medo, culpa, raiva, tristeza, decepção, doença, desejo de pertencer, desespero?

É possível reconhecer em alguém a intenção de suicídio? É possível evitar o suicídio? Essa é a grande pergunta.

Segundo a OMS sim, é possível sim evitar o suicídio, e as ferramentas estão disponíveis para ajudar, o que Bert Hellinger criador das Constelações Sistêmica Familiar discorda um pouco, para Hellinger a questão vai além, é mais profunda.

Quando o suicídio é consciente, e estando atentos às pessoas a nossa volta, podemos perceber comportamentos “estranhos” como tristezas constantes, sem motivo, estado depressivo, desânimo, frustração, mudança de humor, mudança de hábitos de forma rápida e drástica, frases que chocam como queria dormir para sempre; queria fugir; não aguento mais a vida, etc. São algumas das condições que demonstram claramente a falta de interesse em continuar na vida.

Mas e quando a intenção de morrer é inconsciente? Segundo Bert Hellinger muitas vezes a própria pessoa desconhece o verdadeiro desejo de acabar com a própria vida.

Existem padrões e dinâmicas ocultas que se não forem trabalhadas adequadamente, dão indícios de que uma tragédia pode ocorrer a qualquer momento.

As Constelações Familiares trazem um grande avanço na compreensão dos comportamentos suicidas, pois identificam algo que vai além do ato de tentar morrer.

De acordo com os Princípios Sistêmicos não podemos ser vistos de forma separada, pertencemos a um sistema familiar, estamos vinculados a ele, vivos ou mortos.

Através dessa interação familiar circulam então a saúde ou doença, a prosperidade ou pobreza, a força ou fraqueza, a liberdade ou aprisionamento. Porém, cada caso denuncia uma busca incessante do pertencimento, quer seja na vida quer seja na morte.

Como funciona isso?

De acordo com Bert Hellinger existe uma energia que está a circular no nosso Sistema Familiar, e quando há algo pendente, os destinos irão se repetir. Abortos se repetem, acidentes se repetem, doenças, divórcios, fracassos no trabalho e financeiro, suicídio, vícios e outros.

Há um padrão que tende a se repetir no Sistema Familiar se não for resolvido. Por exemplo, após o ocorrido com meu pai, vim a saber através de minha mãe que havia outros casos na família dele, dois tios dele haviam cometido o suicídio (deram um tiro na cabeça) e dois irmãos do meu pai haviam cometido suicídio também (usando o enforcamento), ou seja, até onde temos conhecimento o meu pai é o quinto da família a entregar-se ao suicídio.

Como disse acima, há um padrão que se repete, e por que se repete?

Dentro da família há 3 Leis, e quando uma dessas leis é desrespeitada começam os problemas.

Pertencimento: todos pertencem, vivos ou mortos.

Ordem: quem vem primeiro vem primeiro, quem vem depois vem depois.

Equilíbrio: se uma das leis anteriores for desrespeitada o sistema buscará restabelecer a ordem através da identificação.

E o que seria Identificação?

Todo excluído clama por ser reintegrado ao sistema familiar.

E como acontece a exclusão? Sempre que rejeitamos, negamos, criticamos, julgamos, sempre que esquecemos alguém, nós estamos excluindo-o do nosso sistema familiar, assim, um inocente posterior irá identificar-se a este excluído, forçando o sistema a restabelecer o equilíbrio, e esta identificação se dá em especial por repetir o destino do excluído, assim vem as repetições.

O desejo de Pertencer faz com que o excluído queira ser reintegrado à família. Mesmo estando morto, ele deseja um lugar na família, um lugar no coração de cada um da família, por isso utiliza-se da identificação para voltar a pertencer.

O vivo também, pelo desejo de Pertencer, ou por se achar um “herói” (como no caso de crianças e adultos criança), querem muitas vezes seguir o movimento da morte, ou seja, quer seguir um pai morto, um tio, um avô, um irmão.

Outras vezes a pessoa por amor, por lealdade aquele que foi, ela quer morrer também, ela quer seguir o ente querido, mesmo na morte. Este é o amor que cega, o amor que adoece, segundo Bert Hellinger.

Então o desejo de pertencer, tanto do morto quanto do vivo, a ilusão de ser herói, a lealdade a alguém e ao sistema, ou o amor cego, muitas vezes leva uma pessoa ao suicídio, e isso, nem sempre está em seu campo consciente, mas em seu inconsciente, aqui sim, é necessário, uma dinâmica de constelação para a identificação do problema.

E quem é excluído?

Em geral excluímos, os diferentes, os que não fazem parte do “nosso grupo”, os assassinos, os abortados, os doentes, os suicidas, os viciados, aqueles que pensam diferente de nós, aqueles que fogem ao nosso “padrão moral” e outros.

É verificado com grande frequência nas dinâmicas de Constelação Familiar a seguinte situação: sempre que alguém quer morrer, essa pessoa está olhando para um morto. Quer seguir um morto, seja o papai, o titio, o vovô, um irmão abortado ou morto precocemente e outros.

E da mesma forma, aquele que vem apresentando dificuldades constantes em sua vida, nos mais variados setores, atrai para si estas dificuldades porque quer morrer também, tem o desejo inconsciente de morrer.

E quem quer morrer vai querer o sucesso para que? Vai querer ser feliz para que? Assim atrai para si as dificuldades profissionais e financeira, dificuldades de relacionamentos, doenças, etc.

E como identificar e tentar evitar isso?

Não é algo fácil, porém, não é impossível, basta estarmos mais atentos aqueles que estão a nossa volta.

Quando o desejo de morrer é consciente a pessoa irá agir de acordo com o que falamos no início deste texto (frases que chocam e alterações de humor, etc.), aqui, estando atentos é um pouco mais fácil identificar um padrão suicida e sugerir ajuda profissional à pessoa.

Quando o desejo de morrer for inconsciente essa pessoa irá provocar doenças constantes em si mesmo, como câncer, depressão, e outros…, ou fazer coisas que coloquem a vida dela e a de outras pessoas a sua volta em risco. Isto continuará se repetindo, prestem atenção nos riscos em que uma pessoa a sua volta se expõe.

Da mesma forma, quem está olhando para a morte em geral não tem sucesso profissional, tem problemas constantes em seus relacionamentos, apresenta uma certa dose de tristeza, depressão nem sempre observada facilmente, agressividade, raiva e outros.

Durante uma dinâmica de Constelação Familiar podemos identificar estes padrões e juntamente com os envolvidos chegar a uma solução, através da Aceitação e do Amor.

A pergunta que fica frente a atitudes consideradas suicidas é:

Quem está excluído no meu Sistema Familiar? Para qual morto a pessoa com comportamento suicida está olhando? A criança e o adolescente (que costumam achar que são heróis), estão identificados com quem? Querem morrer no lugar de quem?