Curso de Homeopatia
A ENERGIA VITAL
A ENERGIA VITAL
Os diversos sistemas do corpo e suas funções existem em harmonia porque há um princípio vital totalizador. Por isso o organismo é unidade.
Claude Bernard diz:
“todos os fenômenos vivos são explicáveis mecanicamente,
mas não a ordem que os une”.
Essa ordem, da qual fala o famoso cientista, é o processo dinâmico que mantém o organismo vivo. Por ser dinâmico não pode ser analisado quantitativamente, nem pode ser chamado de mecanismo físico ou químico; é um princípio, é anterior ao que é material.
Sempre à frente de seu tempo, Hahnemann adianta o conceito de “homeostase” que só viria a ser formulado por Claude Bernard meio século mais tarde. No parágrafo 9 do Organon fala de uma “admirável atividade harmônica” em relação às diversas funções orgânicas.
Porém, Hahnemann vai além da constatação da existência da homeostase, ele enuncia aquilo que a mantém ou, em sua linguagem, aquilo que a “governa”: – a energia vital; um conceito que permeia a medicina desde Hipócrates.
Energia vital é a força não material que mantém a vida. Sem ela o organismo material estaria completamente sujeito às ações do meio exterior.
Para manter a vida, a energia vital precisa ser resistente, mas também flexível, vencendo ou adaptando-se às influências hostis que, na homeopatia, são chamadas de noxas.
A eficiência da energia vital, ou seja, o equilíbrio dinâmico, é sinônimo de saúde. A alteração da energia vital, o desequilíbrio do organismo, é a verdadeira causa das enfermidades.
Não existem doenças, existem doentes. Essa frase de Hipócrates só foi verdadeiramente aplicada na medicina após as descobertas e aperfeiçoamentos feitos por Hahnemann.
A doença é, para a Homeopatia, uma reação da energia vital frente à ação das noxas. Assim, aquilo que normalmente chamamos de doença é na verdade o caminho que o organismo encontrou para voltar à saúde. Se a energia vital estiver eficiente, a reação do organismo será rápida, suave e completa, constituindo uma enfermidade aguda. Mas, se a reação da energia vital não for eficiente contra as noxas, a reação será incompleta e o organismo adotará uma determinada condição compatível com o que chamamos doenças crônicas, que são o melhor estado possível que a energia vital foi capaz de alcançar para manter a vida.
Saúde e doença são as duas faces da energia vital.
Toda reação do organismo se apresenta na forma de sintomas. Cada doente apresentará sua reação de maneira peculiar, individual.
Resumindo: a presença de sinais e sintomas revela que há uma perturbação da energia vital, uma alteração do equilíbrio dinâmico e funcional.
Esses sinais e sintomas não são apenas alterações físicas. Se há uma perturbação da energia vital ela se manifestará na totalidade das funções do organismo, originando sintomas mentais e físicos. Quando nosso organismo adoece, ele o faz por inteiro.
Um dos tratados de Hipócrates – Dos lugares nos Homens – antecipa a concepção de Hahnemann de que não pode existir algo como uma doença restrita a um local, pois se a menor parte do corpo está sofrendo, o seu sofrimento é comunicado a todo o organismo.
Esta é a concepção vitalista, base filosófica da Homeopatia: o ser vivo é uma unidade indivisível. Portanto, o diagnóstico e a terapêutica devem visar esta unidade.
Tal visão é compartilhada pela antropologia contemporânea, que superou o modelo dualista grego-cartesiano que divide o homem em corpo e alma. O filósofo Renold Blank resume assim a opinião atual sobre a questão:
“O ser humano é uma única substância indivisível”.
“O ser humano é um ser multidimensional, e tudo o que acontece
a este ser acontece a ele em todas as suas dimensões”.
“A concepção dualista do homem é irreversivelmente
superada na antropologia atual”.
Ou seja, o homem é uma unidade global com várias dimensões: material, psíquica, emocional, social, histórica…
No entanto, a medicina convencional herdou a concepção mecanicista que diz que o ser vivo deve ser fragmentado em suas partes constituintes para poder ser entendido. Tal concepção vê a doença como um fenômeno isolado, restrito a alguns órgãos ou funções.
Por isso, a medicina convencional, ao contrário da Homeopatia, se limita a tratar aquilo que a enfermidade tem de repetitivo, de não individual, de localizado. Negligenciam-se as dimensões subjetivas do processo de adoecer. Pessoas totalmente diferentes são tratadas da mesma forma por apresentarem a mesma entidade nosológica.
Esta medicina tem seus fundamentos no século XIX, quando sobressaem os nomes de Giovanni Morgani e Rudolf Virchow como os pioneiros do estudo da patologia celular. Concentraram-se nos estudos das alterações localizadas e visíveis (graças ao microscópio) dos órgãos e células.
Também surge no século XIX o nome de Claude Bernard, que focalizou os processos que mantém o organismo em equilíbrio. Considerava como causas das doenças as alterações nesses processos de manutenção do meio interno. Suas pesquisas o conduziram à ideia de que as enfermidades ocorriam em um “terreno predisposto”, conceito próximo da “suscetibilidade” enunciada por Hahnemann.
Seguindo outro caminho, Louis Pasteur dedicou-se ao estudo dos agentes microscópicos relacionados às enfermidades, fundando a moderna microbiologia e voltando os olhos da medicina para o meio externo, para aquilo que, vindo de fora, poderia afetar o organismo. Ao tomar tal caminho e negligenciar o estudo do “terreno e da suscetibilidade”, a medicina conheceu, por um lado, avanços grandiosos e, por outro, um processo interminável de “desumanização”.
A arte da medicina passou a ser a arte da guerra. A preocupação médica foi deixando de ser o restabelecimento da saúde para ser o combate à doença. O vocabulário médico foi acrescido de termos bélicos: arsenal terapêutico, drogas de primeira linha, dose de ataque, inimigos multirresistentes etc.
A medicina convencional passou a querer controlar a morte no âmbito coletivo e, por isso, sem perceber, foi deixando o individuo de lado. Atualmente percebem-se as consequências dessa opção: uma verdadeira crise de paradigma da medicina, deficiência na relação médico-paciente, tecnologia “fria” que separa o doente de seu médico, medicalização excessiva e grande procura por práticas ditas alternativas.