Curso de Homeopatia

DIAGNÓSTICO E HIERARQUIZAÇÃO

DIAGNÓSTICO

Os passos de uma consulta médica convencional devem ser realizados normalmente pelo homeopata: – ver o doente, ouvir suas queixas, perguntar, examinar, solicitar exames complementares que ajudem a concluir o diagnóstico nosológico comum…

Porém, o verdadeiro conhecimento do doente (sua totalidade) só é conseguido após uma escuta atenta da história de vida relatada. O homeopata necessita saber como aquela pessoa pensa, como age, quais são seus gostos, os sonhos, medos, costumes, sentimentos, expressões, vontades… etc etc. Só assim poderá chegar a encontrar um medicamento, dentre os milhares conhecidos, que mais se assemelhe ao doente em questão.

Além do diagnóstico clínico (patológico), o homeopata visa um diagnóstico individual, um diagnóstico constitucional e um diagnóstico medicamentoso.

– Diagnóstico clínico (ou patológico). Significa descobrir qual a entidade nosológica do doente, ou seja, qual o nome da doença. Para isso todo médico pesquisa os sintomas e sinais comuns e patognomônicos que o doente apresenta e solicita exames complementares se forem necessários. Às vezes, não há doença nenhuma a ser descoberta e a pessoa procura ajuda por querer se prevenir ou por sentir-se mal sem queixas específicas.

– Diagnóstico individual. Significa descobrir qual é o modo de ser daquele sujeito, o que diferencia aquela pessoa de outra, quais seus sintomas característicos (modalizados), peculiares e raros. Qual a sua maneira própria de adoecer.

– Diagnóstico constitucional (Biopatográfico). Significa descobrir o modo que o doente viveu até agora. Sua história. Como reagiu frente a adversidades da vida. Sua susceptibilidade. Seu desequilíbrio dinâmico e histórico.

– Diagnóstico medicamentoso. Todos os outros diagnósticos visam atingir este objetivo: descobrir qual o medicamento que irá curar o doente.

Esta é a razão de ser do médico. Só se consegue atingir este objetivo comparando a totalidade sintomática característica do doente com a totalidade característica das diversas substâncias já experimentadas.

O medicamento cuja totalidade é a mais semelhante possível à totalidade do doente é chamado de “similimum”, este é o melhor remédio para aquela pessoa, aquele que levará à cura.

Muitas vezes não se descobre o “similimum” do paciente, mas apenas medicamentos que são menos semelhantes. Estes são chamados de “similares”, são aqueles que levarão a resultados parciais.

Duas questões surgem:

– Como o homeopata consegue descobrir, dentre centenas de substâncias conhecidas, aquela que desperta em pessoas sãs sintomas semelhantes aos do doente que se pretende curar?

– E, de tantos sintomas que o paciente relata, quais são os mais importantes.

A resposta é Hierarquização e Repertorização.

HIERARQUIZAÇÃO

Hierarquia é uma classificação por ordem, uma escala. Hierarquizar é organizar seguindo uma ordem. Em Homeopatia, a compreensão de qual sintoma é o mais ou o menos importante denomina-se “hierarquização dos sintomas”.

Veja a orientação de Hahnemann (Organon, par. 153):

“Na busca por um remédio homeopático específico devemos ter em conta, principal e unicamente os sinais e sintomas mais notáveis, singulares, extraordinários e característicos do caso patológico (…) Os sintomas mais gerais e indefinidos como perda de apetite, mal-estar geral… etc, merecem pouca atenção quando apresentam este caráter vago indefinido, pois são observados em todas as enfermidades e em quase todas as drogas”.

A busca do homeopata é por sintomas próprios do SUJEITO doente e não específicos da entidade nosológica. Logicamente, a queixa principal, a manifestação mais chamativa, aquilo que levou o doente ao médico será investigado.

O homeopata, se também se tornou um médico, objetivando um diagnóstico clínico, solicitará os exames complementares que forem necessários e a opinião de outros especialistas. Porém, estas manifestações que levam a um diagnóstico clínico (à descoberta de qual é o nome da doença) constituem, para a Homeopatia, apenas uma imagem mais generalizante, evidente e impessoal do doente.

A analogia com a observação de uma pintura é pertinente. Os sintomas mais comuns são aquelas formas óbvias que qualquer um percebe ao admirar um quadro, o próprio paciente nota, pois ele é o seu primeiro médico. É ele quem faz seu primeiro diagnóstico ao pensar que precisa de ajuda. Ele percebe que algo não está certo ou que alguma coisa falta no seu quadro.

Um médico convencional, após uma análise superficial, dirá o que é que não está certo, quais são os desvios da normalidade que estão promovendo as manifestações incômodas (quais os erros grosseiros da obra).

Mas, aqueles sintomas mais “singulares, extraordinários e característicos”, no dizer de Hahnemann, são os detalhes da pintura que poucos veem.

São os sintomas que conduzem à individualização do quadro, ao diagnóstico constitucional do doente.

Uma mulher com pneumonia é diferente de outra mulher com pneumonia. O diagnóstico clínico é o mesmo, mas certamente o diagnóstico constitucional será diferente. Da mesma forma que uma mulher pintada por Monet é diferente de uma pintada por Renoir. Sendo necessários olhos atentos (“sentidos perfeitos”) para perceber os detalhes que individualizam uma obra da outra.

Na Medicina convencional (Alopatia) as duas mulheres serão tratadas da mesma forma: – antibióticos. Na Homeopatia serão tratadas cada uma com seu medicamento individualizado (de acordo com a lei dos semelhantes).

A partir do momento em que dispomos dos sintomas mais característicos do sujeito doente passamos a ordená-los, ou seja, fazemos a hierarquização.

Os autores homeopatas concordam que os sintomas mentais são os de maior valor (a personalidade, o intelecto, a afetividade, etc.), depois os sintomas gerais (a relação com o clima, alimentação, transpiração, sexualidade etc.) e por último os sintomas locais e físicos. Ressalte-se que os sintomas mais antigos (que se manifestam há mais tempo) têm mais valor que os sintomas recentes.

Este é o esquema didático proposto pelo médico homeopata argentino Francisco Eizayaga para a hierarquização dos sintomas:

– Sintomas constitucionais (personalidade/ angústia principal/ sentimento predominante).

– Sintomas Individualizantes / característicos:

* 1.  Mentais (medos, ansiedade, tristeza, sonhos, memória etc.)

* 2. Gerais (desejo alimentar, sede, sono, transpiração etc.)

* 3. Locais (sintomas físicos raros, sensações localizadas etc.)

– Sintomas comuns (transtornos funcionais, lesões orgânicas, dores etc.).

CASO CLÍNICO 2

“Mulher, 50 anos, queixa-se de dor de cabeça desde os 20 anos. Vê pontos brilhantes antes das crises de dor. Sente-se cansada todos os dias. Dores nas mamas durante as menstruações. Desde que sua mãe morreu, sonha com ela e tem a sensação de ver seu rosto. Tem medo do escuro e de que algo ruim possa acontecer. Deseja alimentos salgados e peixes.”

Quais sintomas seriam mais valiosos para individualizar esta senhora: o que a diferencia de outras pessoas?

1- A dor de cabeça? – certamente não, este é um sintoma físico, localizado, muito comum.

2- O desejo de sal e peixes? – estes são sintomas gerais, mais valiosos.

3- Os medos, sonhos e ilusões? –estes são sintomas mentais muito significativos para a Homeopatia.

Provavelmente, a paciente procurou o médico por causa das dores de cabeça, pois é isto que mais a incomoda. Porém, o homeopata precisou descobrir sintomas que melhor caracterizem (individualizem) esta paciente. Escolheu então os sintomas mentais e gerais (por serem mais valiosos) para buscar no Repertório o medicamento mais apropriado, conforme a lei dos semelhantes.