Curso de Homeopatia

REPERTÓRIO HOMEOPÁTICO

REPERTÓRIO HOMEOPÁTICO

Repertório homeopático é um dicionário dos sintomas registrados na matéria médica.

Nos livros de “matéria médica”, cada capítulo corresponde a um medicamento com a lista de sintomas que o mesmo provocou nas experimentações. O “Repertório” segue o caminho inverso: procura-se determinado sintoma e este é seguido da lista de medicamentos que o provocam.

O homeopata, após recolher a totalidade característica do doente numa consulta completa e detalhada, elege os sintomas mais e menos importantes, ou seja, faz a Hierarquização.

Necessário eleger sintomas e não utilizar todos, pois seria inviável trabalhar com um universo tão grande de características mentais e físicas que compõem um ser humano.

Mas, para termos certeza de que esses sintomas escolhidos retratam mesmo a totalidade do doente, o quadro de sintomas hierarquizados deve ter ao redor de cinco sintomas bem característicos e significativos. É a chamada síndrome mínima de valor máximo.

Depois, procura-se no repertório estes sintomas, buscando quais são os medicamentos que nas experimentações produziram tal conjunto de sintomas. Este processo de consulta ao repertório chama-se Repertorização.

Se apenas um medicamento “cobrir” todos os sintomas hierarquizados, então este será, provavelmente, o melhor remédio para o paciente.

A dificuldade ocorre quando mais de um medicamento “cobre” todos os sintomas, ou então, quando nenhum medicamento consegue cobrir o conjunto.

Receitaríamos, então, mais de um medicamento para o paciente? 

Não. Um dos fundamentos da verdadeira homeopatia é a administração de um remédio único por vez, da mesma forma que em cada experimentação os participantes sãos, ingeriram apenas uma substância.

Qual a saída?

No repertório, os sintomas recebem uma pontuação: 

Sintoma que só apareceu em uma experimentação daquela substância = 1 ponto.

Sintoma que também apareceu em novas experimentações da mesma substância = 2 pontos.

Sintoma que surgiu na experimentação, nas novas experimentações e que foi confirmado na clínica (pela cura dos doentes que apresentaram este sintoma) = 3 pontos

Depois de eleger a totalidade sintomática do doente (ou seja, os sintomas que melhor individualizam aquele paciente), o homeopata procura o medicamento que cobre essa totalidade. Mas, além de cobrir a totalidade sintomática, o medicamento precisa somar maior número de pontos. Uma pontuação alta significa que os sintomas são comprovadamente provocados e, pela lei dos semelhantes, curados por aquela determinada substância. Assim, ele será (muito provavelmente) o remédio mais adequado para o caso.

Atualmente, dispomos de repertórios computadorizados que agilizam o processo. O homeopata elege a totalidade sintomática característica e o computador mostra quais são os medicamentos que cobrem essa totalidade.

A repertorização é uma técnica que auxilia o homeopata, porém ela não é isenta de erros. Ele deve sempre conferir na Matéria Médica se há verdadeiramente similitude entre a totalidade do medicamento apontado na repertorização e a totalidade do doente.

O repertório é um instrumento. A repertorização é uma técnica e, como tal, corre o risco de ser banalizada. Obviamente a complexidade de um ser humano (o seu modo único de ser, de agir e de adoecer) limita qualquer tentativa de simplificação. Eleger alguns poucos sintomas que representem o universo daquele sujeito doente é uma tarefa, no mínimo, difícil. A experiência demonstrou aos homeopatas que a totalidade é muito mais do que a soma de alguns sintomas importantes.

Resumindo. A base da consulta homeopática é a busca pelo medicamento mais semelhante ao doente. Os passos dessa busca são: a observação minuciosa, a escuta atenta, o questionamento, a anotação da história de vida e o exame físico. A repertorização é facilitada com o uso do computador, mas não dispensa a verificação no livro de medicamentos (matéria médica). A grande dificuldade – a parte artística da medicina homeopática – está na eleição dos sintomas a serem repertorizados, ou seja, na escolha daqueles sintomas que representam a totalidade da pessoa doente.

Saber quais são os sintomas que têm valor para melhor individualização do paciente é a chave para a cura.

EXEMPLO DE HIERARQUIZAÇÃO E REPERTORIZAÇÃO

CASO CLÍNICO 3

Mulher, 38 anos, casada, dona de casa, branca, brasileira.

O motivo da consulta é “prisão de ventre”.

Ela focaliza nesse sintoma toda sua atenção. Acredita que todos os seus problemas vêm daí. Mostra-se relutante em contar sintomas mentais.

Interrogada sobre a infância diz que tinha muito medo de multidão. Em tais ocasiões seu pai precisava carregá-la no colo. Com o passar do tempo não teve mais esse problema.

Após contar esse sintoma da infância, a paciente ficou mais animada e contou outros sintomas mentais. Em tudo que ela conta aparece o sintoma “medo”, o principal é o “medo de ficar louca”.

Sobre a menstruação conta que durante as regras sente os pés muito frios e, às vezes, apresenta calafrios que começam nos pés e se estendem por todo o corpo.

Dentre os desejos e aversões alimentares sobressai o desejo acentuado por frutas (Ela diz: “se pudesse passaria a vida inteira só com frutas”).

O caso acima é apresentado de maneira resumida para chamar a atenção para pontos fundamentais. Dentre inúmeros sintomas são relatados apenas os individualizantes. Passos da consulta:

1- Anamnese e Exame físico;

2- Diagnóstico clínico. Somente com a queixa principal da paciente (“prisão de ventre”) já poderíamos fazer uma hipótese diagnóstica: Constipação intestinal. Para a medicina convencional bastariam esses passos para instituir a terapêutica: melhorias na dieta da paciente, com aumento do consumo de fibras (frutas e verduras). Se não houver melhora o médico passará a solicitar alguns exames complementares e introduzir substâncias laxativas. (Uma curiosidade: neste caso a paciente já utiliza frutas na dieta e mesmo assim não há funcionamento regular do intestino).

3- Diagnóstico constitucional e individual: O homeopata, além de estabelecer o diagnóstico, precisa conhecer sintomas muito próprios da paciente, aquelas características que a diferenciam das outras pessoas.

Segundo o esquema de Eizayaga proposto anteriormente, os sintomas desta paciente ficariam assim hierarquizados:

I- Diagnóstico constitucional: trata-se de uma mulher medrosa.

II- Diagnóstico individual:

Mental: – Medo em meio à multidão – Medo de ficar louca

Geral:  – Desejo de frutas

Calafrio que começa nos pés e se estende Local:

III- Sintomas Comuns: Constipação intestinal

Em seguida, o homeopata faz a repertorização. Para tanto, dentre aqueles sintomas encontrados, escolhe os mais característicos. Neste caso optamos por 3 deles:

“Medo de ficar louca”

“Desejo de frutas”

“Calafrio que começa nos pés e se estende”

Esse pequeno conjunto de sintomas característicos desta paciente é a chamada:

Síndrome Mínima de Valor Máximo.

Procurando os sintomas A, B e C no livro de repertório (ou então, digitando-os em um programa de repertorização em computador) encontraremos o seguinte: 

47 medicamentos contemplam o sintoma A.

7 medicamentos têm em comum os sintomas A e B.

4 medicamentos têm em comum os sintomas A, B e C.

Ou seja, o sintoma “Medo de ficar louca” aparece na matéria médica de 47 medicamentos; porém apenas 4 medicamentos apresentam em suas matérias médicas todos os sintomas da Síndrome Mínima de Valor Máximo da paciente.

Esses quatro medicamentos são: Calcarea sulphurica, Magnésia carbonica, Pulsatilla e Natrum muriaticum. 

-Receitaríamos os quatro medicamentos para nossa paciente?

Não. Uma das bases da original Homeopatia Hahnemaniana é a administração de uma única substância por vez, da mesma forma que nas experimentações cada experimentador ingere apenas aquela substância cujos efeitos estão sendo pesquisados.

Um daqueles quatro medicamentos deve ser o mais semelhante possível ao caso da paciente. Deve- se, portanto, conferir a pontuação de cada medicamento. O quadro repertorial deste caso é assim representado:

Calcarea sulphurica somou 3 pontos,

Magnesia carbonica somou 4 pontos,

Pulsatilla somou 5 pontos,

Natrum muriaticum somou 6 pontos.

A repertorização aponta para Natrum muriaticum como a melhor opção.

O próximo passo seria conferir na matéria médica de Natrum muriaticum se a “imagem” da doente confere com a “imagem” do medicamento. A repertorização é apenas uma técnica e pode induzir ao erro se o homeopata negligenciar o estudo da matéria médica.